“Passei anos vasculhando roupas de segunda mão em brechós e vi centenas de peças perfeitas abandonadas simplesmente por causa de um zíper quebrado”, ela conta. “Afinal, por que gastar tempo e dinheiro consertando um zíper quebrado, quando é mais rápido, mais barato e infinitamente mais divertido comprar uma roupa nova, com um zíper que funcione?”
“Mas, por favor, podemos parar e analisar o que estamos fazendo quando desprezamos o zíper que quebrou? O que aconteceria se decidíssemos substituí-lo?”, pergunta ela.
O questionamento de Castro é um dentre muitos enfrentados pela indústria da moda no século 21. Está ficando cada vez mais difícil ignorar os prejuízos sociais e ambientais causados pela fabricação de roupas.
As taxas de consumo de recursos naturais são estratosféricas, sem falar na poluição e nos níveis de resíduos, enquanto as cadeias de fornecimento globais são marcadas pela exploração. E o setor é ainda responsável por uma parcela que varia de 2 a 8% do total das emissões globais de gases do efeito estufa, dependendo do estudo consultado.
São fatos impressionantes, considerando que, até certo ponto, trata-se de uma indústria de produtos não essenciais. Muito poucas pessoas nas capitais consumidoras de moda ao redor do mundo realmente precisam de mais roupas. Mesmo assim, são produzidas cerca de 80 a 100 bilhões de peças de roupa por ano – e esta estimativa é conservadora.
O setor da moda vem lutando para vencer esse desafio com planos e relatórios detalhadamente pesquisados, que incluem uma série de projetos para aumentar a eficiência energética das cadeias de fornecimento, mudar para materiais renováveis, investir na inovação de materiais para evitar os sintéticos, promover iniciativas de justiça social e combater a crueldade com os animais.
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Mas, embora esses esforços sejam bem intencionados, eles enfrentam uma indústria que já tem um impacto ambiental gigantesco. Basta dizer que a maioria desses 80 a 100 bilhões de peças de roupa acaba sendo incinerada ou lançada em aterros com muito pouco uso.
A pandemia abalou as vendas globais de roupas. Agora, elas estão a caminho de atingir novamente níveis um pouco maiores que os de 2019, segundo os relatórios sobre o Estado da Moda da consultoria norte-americana McKinsey & Company.
Cada vez mais ativistas argumentam que uma das formas mais fáceis de reduzir os impactos da indústria da moda é comprar menos (ou muito menos – apenas três novas peças de vestuário por ano, segundo o grupo ativista britânico Take the Jump) e fazer com que as roupas que já temos durem mais tempo. A ideia básica é que a indústria da moda precisa reduzir seu tamanho substancialmente.